sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Para Cecília

Eu não me lembro quando foi a primeira vez que a vi. Estávamos no ginásio ( naquela época era assim) no Seminário Nossa senhora da Glória.
Ela tinha apenas 1:20cm e ,é claro, chamava a atenção de todo mundo. Com o passar do tempo fiquei conhecendo sua história.
Cecília tinha um problema ósseo. Seus ossos se quebravam com muita facilidade e ela havia passado a maior parte de sua infância na cama engessada.
Mas essa parte da história eu não vou contar.
Ficamos grandes amigas. Amigas de muitas risadas, de confidências, de desabafos e de choros. E por frequentar muito a casa dela eu sabia do medo que a família tinha com relação a tudo que ela fazia. Era, na realidade, um cuidado muito grande.
Terminamos o ginásio, fizemos o colegial e o cursinho juntas. Meu braço era seu apoio e eu fiquei tão conhecida quanto ela pois não nos separávamos.
Embora seu corpo fosse pequenino, sua alma era grande e queria voar longe.
Seu primeiro vôo foi a faculdade de odontologia no interior de São Paulo.
Mas ela não se contentou só com isso. Amou como as almas grandes amam e apesar de todo o medo da família casou com o homem que ela mesma escolheu.
O vestido de noiva foi minha mãe que fez. Ela estava tão bonita....
Mas o vôo não parou por aí. Para quem deixar as lições de vida que ela havia aprendido? Para quem deixar o exemplo do esforço e da conquista mesmo quando a vida nos priva de algumas coisas?
E foi então que ela escolheu duas meninas para passar adiante sua história e que lhe deram a oportunidade que lhe faltava de ser chamada de mãe.
O resto da história eu prefiro não contar. Porque a vida dela foi tão bonita que é isso que eu quero lembrar quando sua imagem vem ao meu pensamento.
Talvez ela tenha sido um dos melhores exemplos que eu tenho da alegria e da força com que alguém enfrenta a vida. E se foi tão curta, foi o suficiente para que eu aprendesse a amá-la e tê-la como uma amiga querida para sempre.