terça-feira, 5 de abril de 2011

Roda viva

Eu cresci vendo minha mãe costurar e meu pai fazer contabilidade. Minha mãe foi e ainda é maravilhosa na costura. Meu pai trabalhava muito e não podia assinar as escritas que fazia pois não tinha diploma. Dividia o que ganhava com um amigo que assinava a contabilidade por ele. O som que embalava meu sono quando criança era o do pedalar da máquina de costura e das teclas da máquina de escrever. Havia também o som de um radinho de pilha que irradiava jogo de futebol e quando não tinha jogo era o som de músicas acompanhadas de um lápis batendo o ritmo na mesa. Aliás, meu pai conseguia fazer o que eu nunca consegui, que era trabalhar ouvindo música. Eu não tinha a menor consciência da situação financeira que vivíamos. Nunca me faltou nada mas a vida era simples. Nada de viagens, nada de restaurantes, nada de roupas caras. Por incrível que pareça foi na semana passada que minha mãe deixou escapar que um dia ela terminou um vestido e com o dinheiro que recebeu saiu para comprar "mistura" pois não tinha nada naquele dia. Mas seu era tão feliz!!! Eu tinha tudo o que precisava e que o dinheiro não compra: uma família, amor, carinho e acima de tudo uma coisa que eu só descobriria alguns anos mais tarde. Quando me casei conheci um outro lado da vida que eu não estava acostumada. Saía muito, ia a bons restaurantes e comprava tudo o que queria. Mas no fundo eu sempre fui uma pessoa simples, de hábitos simples. Tudo o que aprendi na infância chama-se Felicidade. Ela não depende de nada que venha de fora de nós. Hoje eu estou passando uma fase difícil e mesmo assim sou uma pessoa feliz. Não tenho saudade de nada que ficou dos dias de fartura. É claro que havia mais tranquilidade no sentido financeiro mas se essa é lição que tenho que aprender, vamos em frente. Agradeço a meus pais pelo exemplo de coragem, dignidade e honestidade. Não há nada que me faça esquecer dessas coisas. "Roda mundo, roda gigante roda moinho, roda pião o tempo rodou num instante nas voltas do meu coração".