sábado, 8 de dezembro de 2007

Mas afinal, o que é Dislexia?

Primeiro a Globo abordou a Síndrome de Down em horário nobre e agora é a vez da Dislexia.

Eu acho isso ótimo porque assim as pessoas ficam conhecendo um pouco mais a respeito do meu trabalho como fonoaudióloga. E passam a entender que a fonoaudióloga não é somente a profissional que " ensina a falar certo".

A Dislexia é uma dificuldade na aquisição ou desenvolvimento da leitura e da escrita em crianças normais, sem problemas neurológicos, expostas a educação formal e que apesar disso não conseguem aprender.

Existem graus de Dislexia e na maioria das vezes as crianças são designadas como preguiçosas ou "burras". Triste não? Mas essa é a realidade brasileira.

Às vezes o diagnóstico é tardio e a criança passa por vários profissionais até que se chegue à conclusão de que ela é disléxica. E até esse dia chegar ela sofre preconceitos até dentro da própria escola. Nem sempre o professor consegue "perceber" o problema e encaminhar a criança para o profissional certo.

Tenho alguns disléxicos no consultório. Cada progresso é sempre comemorado com muita alegria. Cada vez que eles conseguem ler e entender o que leram é maravilhoso.

Fico feliz ao ver a TV abordar esse problema que aflige tantas das nossas crianças. Tomara que isso possa sensibilizar pais e professores para que eles procurem ajuda sempre que suspeitarem que alguma criança possa ser portadora desse distúrbio.

Nós, fonoaudiólogas, estamos aqui para ajudar.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Mariana

-Então você é fonoaudióloga?
-Sim, sou.
-E não está trabalhando por quê?
-Porque o Thiago nasceu e depois disso eu parei. Agora que ele vem pra essa escola, quem sabe...
-Pois você pode vir também e trabalhar comigo. Sou pedagoga e preciso de alguém como você.
Foi assim que eu a conheci. E foi assim que nasceu uma grande amizade.
Não éramos amigas de tomar café uma na casa da outra e nem de fazer compras juntas no shopping. Éramos amigas de longas conversas no telefone, de conselhos e confidências, de estudos e descobertas.
Ela foi a pessoa que acreditou no meu trabalho sem ao menos me conhecer. Foi quem me deu oportunidade de voltar a fazer o que eu gosto tanto.
É a ela que devo todos os pacientes que tive desde então.
Hoje, ao folhar uns artigos, achei um que me foi enviado por ela. Estava junto dele um bilhete e me deu uma grande saudade.
Quantos estudos e quantos pacientes ainda poderíamos compartilhar? Só Deus sabe, pois ela se antecipou e resolveu partir.
Todas as vezes que penso em parar e estou desanimada é a voz dela que escuto dizendo:
-Vá em frente, amiga, não desista. Se Deus nos deu essa missão é porque temos condições de cumpri-la.
Obrigada por tudo, Mariana, mas principalmente por ter me dado uma coisa que só mesmo um amigo dá: a confiança e a oportunidade de recomeçar.

sábado, 10 de novembro de 2007

Anjos da Terra

Os anjos sempre estiveram presentes na minha vida.
Lembro-me que quando era pequena, a imagem que tinha deles era de seres alados, com cabelos loiros e encaracolados e que protegiam principalmente as crianças.
Por muitos anos recitei todas as noites a oração escrita na imagem do anjo da guarda dada por minha madrinha e que ficava na cabeceira da minha cama. Nessa época eu nem sabia o que queria dizer "celestial piedade", mas mesmo assim, rezava.
O tempo me ensinou a ver os anjos de forma diferente. Hoje, quando os evoco, imagino seres iluminados mas sem asas. E toda vez que peço proteção eles me escutam e levam meu recado até Deus.
Descobri também que eles podem se manifestar de modos diferentes. Vejo-os nos olhos dos meus filhos, na dedicação da minha mãe, nas palavras dos amigos e nas crianças que eu atendo.
Muitos estão aqui para nos proteger, outros para serem protegidos.
São os anjos da Terra, que Deus colocou nos nossos caminhos para tornarem nossa vida melhor. Não são perfeitos como os do Céu mas enchem nossos corações de felicidade e paz.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Então eu estava dirigindo o carro na Avenida dos Ourives e na minha frente ia um carro com dois rapazes.
De repente o carro diminuiu a velocidade e parou. Fui obrigada a parar também pois a rua é estreita e mão dupla. E fui obrigada a ver uma cena que não vou esquecer...
Os dois infelizes abriram a porta e soltaram um cão vira-lata ali, no meio da avenida.
Depois aceleraram o carro e saíram em disparada.
O animal (cachorro ) começou a correr atrás do carro mas, vencido pelo cansaço, parou e olhou os jovens se afastarem. Começou a chorar e latir.
Fiquei morrendo de pena dele. Quase parei o carro para dizer-lhe que aqueles dois idiotas não mereciam sua amizade.
Quando consegui emparelhar com eles no farol, os dois estavam rindo muito.
Passo todo dia pelo mesmo local mas nunca mais vi o cãozinho. Espero que alguém tenha dado abrigo a ele pois várias pessoas viram a cena.
Quanto aos jovens...bem acho que não tenho nada a dizer. Eles valem muito menos que o cachorro...

domingo, 7 de outubro de 2007

Defendendo o território

Todo dia é a mesma coisa.
Quando a gaiola é colocada no chão, lá vai ele disfarçando cheirar o alpiste, a vitamina e o jiló.
O passarinho não gosta muito da presença dele. Abre suas asas e seu bico pronto para atacar. E olha que ele é um passarinho dócil. Mas acho que não gosta de se sentir ameaçado por outro animal que tem até mais mordomias que ele.
Sim, porque o Nick toma café da manhã e só aceita sua ração misturada com legumes ou frango desfiado. Come biscoitos e frutas. Por que então tem que fuçar na comida do passarinho?
Até que nesta semana aconteceu o que já prevíamos. Quando o Nick chegou pra cheirar a gaiola, o Tico (esse é o nome do passarinho) não perdoou. Abriu asas com fúria e partiu pra cima dele. Deu-lhe uma bela bicada no focinho!
E o Nick foi disfarçando e saindo de fininho, meio sem graça. Bem feito!
Pensa que ele aprendeu a lição? Claro que não! É um cachorrinho teimoso...Tenho certeza que fará outras tentativas quando a gente não estiver por perto para que não presenciemos sua saída disfarçando como se nada tivesse acontecido, caso ele leve outra bicada.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Eu te amo, meu amor

Quando ele era bebezinho, não ia no colo de ninguém. O avô até dizia, meio chateado, que faria máscaras com o meu rosto e colocaria nas pessoas da família, para que estas pudessem pegá-lo no colo.
Depois foi a época da escola. Perdi as contas de quantas vezes tive que entrar junto com ele na classe e quando saía escutava seu choro na rua.
Por alguns anos eu escutei dele todos os dias:
_ Eu te amo, meu amor...
Bem, mas o menino cresceu e fez-se moço. E por mais que eu me esforce, às vezes me esqueço disso. Por mais que eu tente, não consigo deixar de pedir para que ele leve um agasalho, que não esqueça o celular, que me ligue sempre. Não consigo ficar despreocupada quando ele sai e nem esqueço de beijá-lo toda noite e arrumar suas cobertas como quando ele era criança.
Hoje, em especial, eu peço à Nossa Senhora que sempre lhe estenda a mão e o proteja de tudo o que for ruim, mostrando-lhe o caminho certo.
Parabéns, filho querido! Você é, sem dúvida, ao lado da sua irmã, o melhor presente que Deus me deu.

sábado, 22 de setembro de 2007

Amigas para sempre

Finalmente chegou o dia. Depois de muitos e-mails tudo ficou combinado e eu passei então a viver dias de muita ansiedade.Eu ia rever amigas que compartilharam comigo 4 anos de muito estudo e muitas alegrias.
Será que eu iria lembrar do nome de todas elas? Será que teríamos assunto suficiente para uma tarde toda?
Fiz questão de comprar uma roupa nova e quando a hora chegou meu coração batia mais forte.
A vida me deu hoje um belo presente. Quando olhei para aquelas que estudaram comigo há 30 anos, todo um passado voltou, como se estivéssemos ainda na PUC.
Apesar de 30 anos terem se passado ainda pude ver um brilho especial nos olhos de cada uma que ali estava. E minhas dúvidas desapareceram...Pude lembrar o nome de cada uma e uma tarde foi pouco para podermos falar tudo o que queríamos.
Cada uma com sua história mas todas com algo em comum: a fonoaudiologia nos fez mulheres corajosas e felizes. Aprendemos a superar as dificuldades da nossa profissão porque ela faz parte das nossas vidas. Fazemos fonoaudiologia por amor e é isso que nos faz tão próximas mesmo tendo se passado 30 anos.
Quantos anos mais teremos histórias para contar? Isso não importa. O que importa é que cada uma de nós fez a escolha certa e que somos orgulhosas de exercer uma profissão que nos faz aprender muito mais do que ensinar.
Obrigada, amigas queridas, por terem me dado um dia de tantas alegrias e boas recordações.

sábado, 15 de setembro de 2007

Filhos do coração

Eles poderiam ser como milhares de crianças do nosso país. Poderiam ficar anos num orfanato esperando por uma família.
Mas o destino foi generoso com eles dando-lhes pai, mãe e irmãos.
Ela, pequenina e frágil, foi privada do convívio materno muito cedo. Órfã, poderia ser uma criança triste mas é alegre e inteligente.
Sua dificuldade de fala é pequena diante da força que tem para vencer os obstáculos.
E como Deus faz sempre tudo certo, ela tem os cabelos loiros e encaracolados como os da mãe e do irmão que fazem parte agora da sua nova família.
Ele, rejeitado pela mãe e encontrado na rua ainda recém-nascido, era um bebê muito doente.
Os novos pais deram-lhe um nome de anjo e lutaram pela sua vida. Continuam lutando até hoje para que ele vença as suas dificuldades na escrita.
Filhos do coração...tão amados ou até mais do que os próprios filhos gerados no ventre dessas mães corajosas e abençoadas.
Pais adotivos...exemplos de amor incondicional e de aceitação. Exemplos a serem seguidos num país onde tantas crianças precisam de um lar e de um gesto de carinho para se tornarem pessoas do bem.

sábado, 8 de setembro de 2007

Mamãe Noel

De todas as boas recordações que tenho da casa da minha avó materna, o Natal é, sem dúvida, a melhor delas. Lembro-me que os preparativos começavam bem antes e que no dia 24 nós não podíamos subir a escada que ia dar nos quartos pois minha mãe e minhas tias guardavam os presentes lá em cima.
À noite a família de reunia em volta de uma mesa farta e à meia noite em ponto, as luzes se apagavam e só ficava o pisca-pisca da árvore de Natal.
Então tudo se transformava e pela porta da frente da casa entrava Papai Noel carregando o saco de brinquedos para as crianças da família.
Apesar da alegria, eu tinha medo e sempre ficava ao lado da minha mãe.
Então o bom velhinho distribuía presentes e abraços e prometia voltar no próximo ano.
Mas eu fui percebendo que, estranhamente, sempre que Papai Noel aparecia, faltava alguém da família ( geralmente um homem ) que reaparecia algum tempo depois.
Eu estava crescendo e numa noite de Natal fiz a grande descoberta que me deixou muito decepcionada.
Naquele ano Papai Noel me pareceu muito familiar. Não sei se era a voz, o jeito de andar...E quando procurei minha mãe, como sempre fazia, não a encontrei. Estranhei sua ausência mas logo depois que Papai Noel se foi, ela apareceu.
Então ela me explicou que estava na cozinha o tempo todo.
Quase acreditei mas quando ela virou de lado percebi que havia talco em seu pescoço e em seu rosto. E então entendi o porquê de eu ter achado Papai Noel tão familiar naquele dia.
Vivi ainda outros Natais na minha infância mas eles já não tinham o mesmo encanto de antes.
A magia do Papai Noel tinha ficado nos meus sonhos de criança...

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Seguir em frente

Se fosse por merecimento ela já teria encontrado o lugar que tanto procura...
Se fosse pelas minhas preces também. Não canso de pedir para que uma porta se abra.
Acontece que as coisas acontecem na hora certa. Se bem que às vezes acho que a hora está demorando para chegar.
Não é possível que alguém com tanta vontade e capacidade possa ficar esperando tanto tempo.
Então a gente ouve as pessoas dizerem que o curso que ela escolheu é assim mesmo... Difícil de conseguir estágios.
Mas será que somos obrigados a abrir mão do que gostamos porque o mercado de trabalho é difícil?
Compreendo todo o seu desânimo em alguns dias. Seu choro, de vez em quando... Mas me surpreendo com sua capacidade de seguir em frente mesmo aborrecida.
Tenho que ter esperança que quando a porta se abrir só ela vai entrar. E então eu vou vê-la sorrir por não ter desistido do seu ideal. Por ter lutado e acreditado que tudo daria certo.
Amo você, Amanda!!

sábado, 25 de agosto de 2007

Desafio

A fonoaudiologia tem me dado muitas alegrias em todos esses anos.
Tempos atrás, ao terminar minha palestra numa escola municipal, fui procurada por uma mãe. Ela era jovem e parecia muito humilde. Perguntou-me se eu conhecia a síndrome da qual sua filha era portadora. Eu lhe respondi que não.
Mas a mãe precisava de ajuda e eu me dispus a ajudá-la.
Pesquisei muito e quando, no dia marcado, encontrei-a na sala de espera com a criança, confesso que me surpreendi.
Era uma menina franzina, de óculos e com o rosto disforme. Chamava a atenção de todos que lá estavam.
Encaminhei-a para alguns profissionais e iniciei a terapia.
O tempo foi passando, ela ingressou no ensino fundamental e eu não podia me conformar com a atitude da escola, de tê-la somente como "ouvinte".
Com a experiência de ter trabalhado dez anos em escolas, resolvi que iria alfabetizá-la, mesmo correndo o risco de enfrentar muitas dificuldades devido à sua fala bastante alterada.
Não foi nada fácil mas depois de algum tempo eu tinha a felicidade de encontrá-la lendo gibis na sala de espera.
O corpo da menina foi se transformando no corpo de uma jovem e um dia ela decidiu que já estava bom tudo o que tinha aprendido comigo e que não precisava mais da minha ajuda.
É claro que não concordei. Tenho certeza que se ela tivesse ficado, ainda teríamos conseguido outras vitórias. Mas respeitei sua decisão.
E pela mesma porta que um dia entrou a menina tímida pelas mãos da mãe, saiu a jovem que já podia tomar decisões.
Ela não sabe, mais aprendi muito mais com ela do que ela comigo. E torço muito para que as pessoas aprendam a "enxergar" as crianças especiais como seres capazes. Basta que respeitem seus limites.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Criança também ouve MPB

Na semana passada notei que ele estava mais feliz do que de costume.
Nem foi preciso perguntar o motivo, pois assim que entrou na sala ele já foi falando que havia ganho um jabuti.
Com detalhes ele contou como o pai havia trazido o bichinho para casa, dentro de uma caixa. E que talvez os cachorros sentissem ciúmes.
Quando perguntei que nome ele daria ao jabuti, disse que ainda não sabia.
Uma semana se passou e hoje, quando retornou, disse-me que já havia escolhido o nome. Que havia dado ao bichinho o nome da melhor cantora do Brasil: Elis Regina.
Fiquei surpreendida ao ouvir um menino de 5 anos falar em Elis Regina. E quando perguntei se ele já havia escutado ela cantar, ele imediatamente respondeu:
"Sou caipira pirapora nossa, Senhora de Aparecida..."
Acho que foi uma das melhores coisas que ouvi ultimamente, mesmo porque concordo com ele: Elis foi e é a melhor cantora do Brasil.
E quando eu achei que a conversa tinha acabado ele disse que tem um casal de passarinhos: a Maria Rita e o Chico Buarque. Pode???

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Novos tempos

Quem , como eu, já passou dos 50, sempre fala em "velhos tempos"(bons tempos...)
Tempos em que eu ia para a escola de freiras com a blusa do uniforme impecavelmente branca, lavada pela minha avó no tanque, é claro, pois não tínhamos máquina de lavar.
Tempos em que para mudar o canal da televisão era preciso levantar do sofá. E nem reclamávamos, pois já era ótimo ter televisão.
Tempos em que as mulheres cozinhavam mais, pois os congelados vieram depois ( será que eram bons tempos mesmo? )
Tempos de mais tranquilidade e menos tecnologia.
Mas outro dia a Internet me deu um grande presente. Encontrei a foto de uma amiga querida que também estava tentando resgatar um pouco dos "velhos tempos".
Será que era ela mesma?? Aquela que tocava violão comigo, que ficava horas no telefone e que achava a vida tão alegre quanto eu?
Sim, era ela mesma!!
Obrigada, meu querido computador, por trazer de volta uma amiga tão importante. É graças a você que hoje podemos ter novamente nossas longas conversas.
Salve os "novos tempos"!

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Filhos...

Eles crescem....E de repente nos damos conta que nem sempre podemos solucionar todos os seus problemas.
Quando eram pequenos, parece que os problemas também eram.
Acho que sofro mais do que eles por não poder ajudá-los em determinadas ocasiões. E mesmo sabendo que os dissabores são necessários,algumas vezes, e que é através deles que nos fortalecemos é muito difícil vê-los sofrer.
Embora adultos, sempre acho que eles são frágeis.
Preciso me acostumar com a idéia de que eles são capazes de resolver seus problemas e que algumas vezes só o tempo mesmo é que vai se encarregar de mudar o rumo das coisas.
Enquanto isso eu fico pedindo a Deus que os ilumine e que os ensine a ver a vida sempre com esperança.