Quando eu pensei que já tivesse visto de tudo, estava enganada.
A secretária do consultório disse que havia marcado uma consulta para uma criança cuja mãe era muito esquisita. Não me preocupei com o comentário pois estou acostumada com "mães esquisitas".
Mas aquela realmente chamou minha atenção.
Tinha a nítida impressão que ela não entendia o que eu estava dizendo e eu confesso que também não entendia o que ela dizia. Desconfiei que ela fosse deficiente auditiva ( entre outras coisas ), dado que ela confirmou somente no final da entrevista.
Fiz as perguntas de costume e as respostas foram vagas, imprecisas. Quando perguntei se ela havia ingerido álcool durante a gravidez ela começou a rir e eu pensei: será que além de tudo ela é alcoólatra?
Só então ela me explicou que havia bebido álcool com algumas ervas para ver se abortava.
E a partir daí eu comecei a sentir que a história era mais triste do que eu pensava.
Ela dizia que a criança quase não comia pois havia feito uma cirurgia na garganta que "era aberta" e só foi fechada aos 3 anos mas havia perigo da cicatriz abrir.
Entregou-me então um prontuário do Hospital das Clínicas, onde a cirurgia foi feita, e onde havia o nome daquilo que ela não soube me dizer: palatoplastia.
A criança havia nascido com o céu da boca aberto, a cirurgia só foi feita aos 3 anos e o encaminhamento para fono constava dessa época (2003).
Conheci G. dias depois. Estava muito frio e ela tinha somente um moleton fininho.
Está agora com 8 anos. Fala muito mal, quase não tem amigos e não consegue ser alfabetizada. É franzina e carente...
Não atendo essa patologia mas fui atrás de uma entidade que atende gratuitamente e a fono de lá, com toda a gentileza, se propôs a avaliar a menina.
Marquei um dia pra essa mãe retornar e ela não apareceu. Não deixou telefone pois disse que não tinha. Só tenho seu endereço.
Fico me perguntando o que faço agora e fico lembrando daquela carinha pedindo ajuda...
Estou disposta a fazer uma coisa que nunca fiz: ligar para a assistente social do posto de saúde e pedir que vá ao encontro dessa mãe. Não há mais tempo a perder.
E tantas mulheres desejam ser mães e não coseguem...
terça-feira, 24 de junho de 2008
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Um comentário:
"E tantas mulheres desejam ser mães e não conseguem..."
Pois é... como eu costumo dizer, acho que a maternidade é sim uma vocação. O erro das mulheres é achar que todas elas serão mães em potecial.
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